HIPNOSE CLÍNICA
O Modelo da Mente
Para que você compreenda o que é a hipnose clínica – também conhecida como hipnoterapia – e como ela pode ajudar na superação de traumas e de problemas emocionais, é necessário que você primeiro conheça o modelo da mente, proposto por Gerald Kein. Ele subdivide a mente em 3 camadas: o consciente, o subconsciente e o inconsciente.
O consciente é uma camada que exerce quatro funções básicas: tomada de decisão, raciocínio, força de vontade e memória consciente. Basicamente, são as funções que usamos para o nosso cotidiano e para o nosso trabalho.
O inconsciente é a camada que regula as funções corporais como o sistema nervoso autônomo, o sistema endócrino e o sistema imunológico. Por isso, vemos que muitas doenças crônicas têm relação com problemas de saúde mental. Por exemplo, a evidência científica demonstra que as pessoas que sofrem de câncer e que têm depressão morrem mais do que as pessoas com câncer que não têm depressão.
Já o subconsciente é a camada da mente onde estão os problemas das pessoas que procuram um psiquiatra ou um terapeuta. Ele é o responsável pelas emoções, pelo instinto de auto-preservação, pelos hábitos, pela imaginação e pela memória subconsciente. Esta última, preserva os eventos com relevância emocional que aconteceram na vida da pessoa desde a mais tenra idade. Estes eventos moldam as reações emocionais e os comportamentos que as pessoas terão ao longo de suas vidas. Então, o indivíduo passa a ter certos comportamentos e pensamentos disfuncionais por conta de eventos dos quais muitas vezes ele nem se lembra conscientemente. Exemplo: uma pequena menina de 3 anos se sentiu culpada em um evento em que viu o amigo apanhando da mãe por conta de um comportamento dela, depois aos 7 anos houve mais um evento aparentemente banal em que sentiu culpa, então aos 12 anos a amiga da qual ela tinha se afastado foi assassinada. Novamente, ela sente culpa. Pronto. Este sentimento já está na programação subconsciente dessa mulher de 40 anos. Qualquer evento negativo que aconteça na vida dela, vai gerar o sentimento de culpa automaticamente.
Resultado para boa parte dos casos como este: depressão.
Há um quarto elemento neste modelo chamado fator crítico. Ele funciona como uma barreira do consciente que serve para obstruir a entrada de informações indesejadas ao subconsciente.
Vale ressaltar que este modelo, apesar de simples, reflete muito bem a anatomia cerebral: as funções da mente consciente são exercidas pelo córtex pré frontal, as da mente subconsciente pelo sistema límbico e as da mente inconsciente pelo tronco cerebral e pelo hipotálamo. O fator crítico, por outro lado, pode ser relacionado com alguns estudos que utilizaram ressonância magnética funcional. Estes dados demonstram que a ativação do córtex pré frontal inibe o sistema límbico e vice-versa.
Hipnose
A hipnose é um estado de consciência em vigília no qual a camada subconsciente toma a frente enquanto a camada consciente fica no pano de fundo. No estado de vigília comum é o contrário, logo, mais difícil se conectar com o subconsciente.De fato, estudo com ressonância magnética funcional demonstram que o córtex pré frontal fica mais inibido e o sistema límbico mais ativo no estado de hipnose.Dessa maneira, o estado de hipnose facilita o acesso e a reprogramação dos conteúdos do subconsciente como emoções, memórias, imaginação, hábitos e vícios.
Um exemplo bem simples e comum deste estado de hipnose é assistir a um bom filme que nos prende a atenção e nos emociona. Perceba como entramos na história, esquecemos das nossas questões e suspendemos o nosso fator crítico quando isso acontece. O fator crítico neste caso é o que nos diz que é apenas um filme e que, portanto, não faz sentido nos emocionarmos. Suspendemos este julgamento quando nos deixamos levar pelo filme. Por outro lado, quando continuamos a pensar que é apenas um filme simplesmente não entramos na história e de fato não nos emocionamos.
Este exemplo demonstra que hipnose não é sobre ficar inconsciente ou perder o controle. Assim como isso não acontece enquanto assistimos a um filme, isso também não acontece em uma sessão. Hipnose é sobre estar focado, mais imaginativo, mais emotivo e mais sugestionável. Uma vez que o fator crítico está aberto, as sugestões penetram mais facilmente em nossa mente subconsciente. Por este motivo que o cinema e a televisão têm grande impacto na cultura e no comportamento de uma sociedade. As sugestões do roteirista e do produtor são aceitas muito mais facilmente enquanto as pessoas estão hipnotizadas pelo filme.
No consultório, este estado de hipnose é alcançado por meio das chamadas induções. O objetivo delas é promover um relaxamento físico e mental característico da hipnose.
Hipnoterapia
É a terapia que é feita com o paciente em estado de hipnose. Por ter acesso mais direto ao subconsciente do paciente, esta terapia costuma ser mais eficiente e mais rápida que outras.
Diversas técnicas provenientes de várias escolas de psicoterapia podem ser utilizadas com sucesso, já que a hipnose funciona como um catalisador para qualquer técnica. Independente da técnica, o objetivo sempre é enfraquecer padrões subconscientes disfuncionais que costumam ser a causas dos problemas emocionais. No entanto, a técnica mais frequentemente associada com hipnose hoje em dia é a regressão. De fato, se bem utilizada, ela pode ser muito poderosa no tratamento de diversos problemas.
A regressão costuma ser feita, usando a emoção ligada ao problema como uma ponte que nos leva até os primeiros eventos nos quais o indivíduo a sentiu. É bem comum encontrar eventos anteriores a idade escolar dos quais a pessoa não se recordava conscientemente. No entanto, ainda mais comum é que o indivíduo traga à tona eventos os quais ele lembrava porém aos quais atribuía pouca importância.
Ao fazermos a regressão, utilizamos técnicas de ressignificação e dessensibilização destes eventos iniciais. Mesmo que isso seja feito apenas mentalmente, esta ressignificação é muito poderosa, pois para o subconsciente quase não há diferença entre um evento real ou imaginário. Então, para o subconsciente é quase como se aquilo que foi imaginado durante a sessão tivesse ocorrido. Dessa forma, é possível neutralizar os efeitos negativos destes eventos na mente e no comportamento da pessoa. Mudamos a programação subconsciente do indivíduo, trocando-a para uma mais saudável.
Com esta técnica somos capazes de fazer o que o famoso Sigmund Freud dizia ser o objetivo da psicoterapia: encontrar e resinificar as causas subconscientes dos transtornos emocionais. Ele dizia também que as técnicas eficazes para isso ainda estavam por ser desenvolvidas. Felizmente, hoje temos estas técnicas.
Na verdade, Freud acreditava que apenas a compreensão da causa do problema já seria suficiente para resolvê-lo. Nas sessões de hipnoterapia, nós vamos muito além disso. Nós removemos a emoção ligada ao evento durante resinificação. Uma maneira mais técnica de descrever o processo seria a seguinte: nós neutralizamos a memória implícita( emoções e sensações) negativa ligada a memória explícita (eventos), promovendo a regulação do sistema límbico (responsável pela regulação emocional).
Entretanto, por mais poderosa que seja a regressão, ela está longe de ser a única técnica. Gestalt, PNL, terapia cognitiva e EMDR podem e devem ser usadas tanto para a dessensibilização dos eventos durante a regressão quanto de maneira isolada.
Seguem algumas indicações separadas por dois grandes grupos:
Hipnose Clínica
Buscamos solucionar problemas psiquiátricos e psicológicos ligados a crenças, emoções e hábitos disfuncionais.
Alguns exemplos: auto estima baixa, crenças limitantes, dificuldades de relacionamento, dificuldades no desenvolvimento profissional, timidez ou fobia social, fobias em geral, depressão, transtorno bipolar, ansiedade, transtorno do pânico, transtorno obsessivo compulsivo(TOC) bruxismo, gagueira, compulsão alimentar, bulimia, anorexia, temperamento agressivo, tabagismo, alcoolismo, dependência química.